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terça-feira, 10 de julho de 2012

A grande donzela paulista - Bié Machione

           Na Revolução de 1932  o povo barretense irmanou-se no movimento de forma monolítica, galvanizada, e a mocidade da época   engajada na luta realizou proezas memoráveis naqueles dias gloriosos da epopeia paulista.
            A Revolução Constitucionalista, oficialmente eclodiu dia 9 de julho daquele ano. Mas vinha se fermentando o movimento em vários segmentos da sociedade brasileira desde a vitória da Revolução de 1930. Houve na ocasião do conflito uma moça de família tradicional barretense, Ana de Lima Franco, que apesar de ter antepassados mineiros, bem como sua mãe dona Henriqueta Laudemira de Lima, acabou se transformando no símbolo da mulher paulista apaixonada pela causa. “Titinha”, era este seu apelido, era  tida do grande dramaturgo barretense Aluísio Jorge Andrade. Era irmã de seu pai Inácio de Lima Franco.
            Essa moça, tendo residência, também em São Paulo, à rua Maranhão, transformou sua casa em  cidadela de defesa em  favor da revolução nos meses de julho, agosto e entrados de setembro. Enquanto durou o conflito, Titinha batalhou a seu modo,   angariou ouro para o bem de São Paulo, conclamando outras mulheres a se  engajarem em vários setores que a situação exigia, como confecção de fardas, agasalhos para as tropas, e os homens a ombrearem fileiras a  para deter  o inimigo  odioso. Sua  mãe,  dona Henriqueta, que  era chamada “A Rainha do Rio Pardo”, tal a coragem e ferocidade que defendia seus haveres, quando  seu marido morreu muito jovem, chamava os gaúchos de vermes, criados em bicheiras. 
            Aquela filha da “Vovó Onça” – como nomeava   Aluíso Jorge Andrade a avó materna, implacável e terror de toda a família, tinha nas veias o sangue  incandescente  dos  bravos de sua raça, do lado materno.
            O bisavô de Titinha, a grande donzela paulista,  coronel José Manoel de Lima, na velhice chefe político de Nossa Senhora das Dores do Aterrado, hoje Ibiraci, mocinho ainda engajou-se  na Guerra do Paraguai, como voluntário. Seu pai mandou com ele o Jerônimo, escravo de confiança para zelar do adolescente aventureiro. Numa violenta carga da cavalaria paraguaia, a infantaria brasileira, em último recurso, dispôs-se em quadrado, formando paliçada de baionetas, numa tentativa desesperada de deter o inimigo.
            O mineirinho mirrado, magrinho, foi colocado no meio do quadrado. O comandante teve pena dele.  A carga veio. À testa da coluna, um capitão guarani, índião robusto,  cavalgava  um garanhão baio, a toda brida, desassombrado,  para exemplo dos seus,  saltou a paliçada de baionetas brasileiras. Nesta hora, o Firmino, firmou o coice de seu fuzil no chão  e varou com a baioneta o peito da montaria. O cavalo rodopiou e caiu bem no meio  do quadrado.
            O mineirinho miúdo, que ninguém dava nada por sua coragem, sacou de sua charqueadeira, montou no pescoço do capitão caído e sangrou-o com um pontaço certeiro. A tropa brasileira galvanizou-se. Vendo aquela cena, empolgada avança. Repelem a carga da cavalaria. Os paraguaios acabam  dispersando por todos os lados, derrotados naquela grande batalha imortal que a História denominou “Lomas Valentinas” .
            O bisavô de Titinha, foi o mineirinho da vitória e trouxe dos campos de batalha,  os galões do inimigo  morto e sua espada.  A moça herdou dele a coragem a fúria desesperada.  Mas ela tudo era por São Paulo. Foi grande benemérita nas  causas assistênciais barretenses. Teve pavilhão na Santa Casa de Baretos com o seu  nome.
            Morreu jovem. A derrota paulista de 1932, foi o grande drama, que seu coração não resistiu e no cemitério de Barretos ergue-se até hoje seu túmulo, todo de mármore, tendo  no centro, também de  mármore, sua amada bandeira de São Paulo. Parodiando um pouco Guilherme de Almeida, dorme na eternidade coberta com a:
A Bandeira de sua terra
A  Bandeira das treze listras
As treze lanças de guerra
Do seu coração de paulista.
            Assim foi Ana de Lima  Franco, a “Titinha”, a grande donzela paulista.

Bié Junqueira Machione



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