Na Revolução de 1932 o povo barretense irmanou-se
no movimento de forma monolítica, galvanizada, e a mocidade da época engajada na luta realizou proezas memoráveis
naqueles dias gloriosos da epopeia paulista.
A
Revolução Constitucionalista, oficialmente eclodiu dia 9 de julho daquele ano.
Mas vinha se fermentando o movimento em vários segmentos da sociedade
brasileira desde a vitória da Revolução de 1930. Houve na ocasião do conflito
uma moça de família tradicional barretense, Ana de Lima Franco, que apesar de
ter antepassados mineiros, bem como sua mãe dona Henriqueta Laudemira de Lima,
acabou se transformando no símbolo da mulher paulista apaixonada pela causa.
“Titinha”, era este seu apelido, era
tida do grande dramaturgo barretense Aluísio Jorge Andrade. Era irmã de
seu pai Inácio de Lima Franco.
Essa
moça, tendo residência, também em
São Paulo , à rua Maranhão, transformou sua casa em cidadela de defesa em favor da revolução nos meses de julho, agosto
e entrados de setembro. Enquanto durou o conflito, Titinha batalhou a seu
modo, angariou ouro para o bem de São
Paulo, conclamando outras mulheres a se
engajarem em vários setores que a situação exigia, como confecção de
fardas, agasalhos para as tropas, e os homens a ombrearem fileiras a para deter
o inimigo odioso. Sua mãe,
dona Henriqueta, que era chamada
“A Rainha do Rio Pardo”, tal a coragem e ferocidade que defendia seus haveres,
quando seu marido morreu muito jovem,
chamava os gaúchos de vermes, criados em bicheiras.
Aquela
filha da “Vovó Onça” – como nomeava
Aluíso Jorge Andrade a avó materna, implacável e terror de toda a
família, tinha nas veias o sangue
incandescente dos bravos de sua raça, do lado materno.
O
bisavô de Titinha, a grande donzela paulista,
coronel José Manoel de Lima, na velhice chefe político de Nossa Senhora
das Dores do Aterrado, hoje Ibiraci, mocinho ainda engajou-se na Guerra do Paraguai, como voluntário. Seu
pai mandou com ele o Jerônimo, escravo de confiança para zelar do adolescente
aventureiro. Numa violenta carga da cavalaria paraguaia, a infantaria
brasileira, em último recurso, dispôs-se em quadrado, formando paliçada de
baionetas, numa tentativa desesperada de deter o inimigo.
O
mineirinho mirrado, magrinho, foi colocado no meio do quadrado. O comandante
teve pena dele. A carga veio. À testa da
coluna, um capitão guarani, índião robusto,
cavalgava um garanhão baio, a
toda brida, desassombrado, para exemplo
dos seus, saltou a paliçada de baionetas
brasileiras. Nesta hora, o Firmino, firmou o coice de seu fuzil no chão e varou com a baioneta o peito da montaria. O
cavalo rodopiou e caiu bem no meio do
quadrado.
O
mineirinho miúdo, que ninguém dava nada por sua coragem, sacou de sua
charqueadeira, montou no pescoço do capitão caído e sangrou-o com um pontaço
certeiro. A tropa brasileira galvanizou-se. Vendo aquela cena, empolgada
avança. Repelem a carga da cavalaria. Os paraguaios acabam dispersando por todos os lados, derrotados
naquela grande batalha imortal que a História denominou “Lomas Valentinas” .
O
bisavô de Titinha, foi o mineirinho da vitória e trouxe dos campos de
batalha, os galões do
inimigo morto e sua espada. A moça herdou dele a coragem a fúria
desesperada. Mas ela tudo era por São
Paulo. Foi grande benemérita nas causas
assistênciais barretenses. Teve pavilhão na Santa Casa de Baretos com o
seu nome.
Morreu
jovem. A derrota paulista de 1932, foi o grande drama, que seu coração não
resistiu e no cemitério de Barretos ergue-se até hoje seu túmulo, todo de
mármore, tendo no centro, também de mármore, sua amada bandeira de São Paulo.
Parodiando um pouco Guilherme de Almeida, dorme na eternidade coberta com a:
A Bandeira de sua terra
A
Bandeira das treze listras
As treze lanças de guerra
Do seu coração de paulista.
Assim
foi Ana de Lima Franco, a “Titinha”, a
grande donzela paulista.
Bié Junqueira Machione
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