O conto a seguir é de autoria de Bié Machione
Chico
Tropeiro dormira pouco aquela noite.
Levantou cedinho e foi dar rumo ao seu trabalho. Com esforço, jogou o
corpo magro do homem morto de través no meio
do seu cavalo.
Amarrou
pés e mãos bem atados e encilhou então seu matungo testa de estrela com seu lombilho chapeado de
prata que fora presente do coronel Seixas.
Aquela
encomenda do coronel lhe dera um trabalhão às pampas. Primeiro teve que tocaiar o Mané Bentão, o que não foi
fácil. Depois de chumbeado e bem morto,
lá na curva da estrada que levava à balsa de travessia do rio, Bentão ficou lá horas até que Chico voltasse depois
de arranjar escolhido no pasto um boi “no jeito” para o serviço.
Chico
abateu o caracu enorme com um balaço quarenta e quatro bem na testa. O
bicho não tugiu nem mugiu. Caiu nos
cascos. Com habilidade de açougueiro adquirida anos a fio, Chico tirou as
vísceras habilmente, deixando limpa a carcaça por completo. Largou ali no pasto
o boi abatido e voltou para buscar o morto que seria guardado no seu interior.
Chegou,
desceu o cadáver do Bentão, enquanto conversava com o morto alegremente: -
Então compadre cê nunca imaginou que seria enterrado na água num caixão de carne e osso. Viu que desgraça
a vida te reservou.
E
com ironia macabra de matador desalmado começou a costurar, sim, costurar o corpo do morto na carcaça oca.
Quando terminou estava lá bem guardado o Mané Bentão no seu ataúde de couro, carne
e ossos, pronto para sua viagem final.
Para
o rio foi um pulo só, uma baixada suave. Amarrou a carga sinistra na cincha do
seu cavalo e no cavalo de ajuda outra cincha larga e foi arrastando.
Foi
tiro e queda e o boi acabou estirado na
correnteza suave do rio. Chico cortou as cordas e lá foram homem e boi.
-
Vai com Deus excomungado, gritou Chico. Voltou, pegou as rédeas de seu cavalo,
a corda do barbicacho do outro e seguiu seu caminho.
Livro editado em 1995.
Bié Machione
adorei roseli, muito bem escrito.
ResponderExcluirBié gosta muito de escrever contos.
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